quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vereadores no fundo do poço

De acordo com pesquisa em que foram ouvidas mais de duas mil pessoas de todas as regiões do país, os brasileiros acreditam que a corrupção está mais presente nas câmaras municipais

Os vereadores estão na berlinda. O brasileiro acredita que a corrupção, um dos grandes problemas do país, está mais presente nas 5.552 câmaras municipais. Depois delas, no ranking dos ambientes mais corruptos estão a Câmara dos Deputados, as prefeituras e o Senado. Apesar dos escândalos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a Presidência da República vem em oitavo lugar, atrás também das pessoas mais ricas, dos governos estaduais e dos empresários.
Os dados são da pesquisa encomendada pelo Centro de Referência do Interesse Público (CRIP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ao instituto Vox Populi, e que será discutida em 4 de setembro num seminário onde também será lançado o dicionário A corrupção: ensaios e críticas, patrocinado pela Fundação Konrad-Adenauer, com artigos de 61 pesquisadores e mais de 400 páginas.No levantamento, feito com recursos da Fundação Ford, foram ouvidas, em maio, 2.421 pessoas em 139 municípios, desde localidades pequenas como Novo Horizonte do Oeste (RO), com 9,6 mil habitantes, até o berço do sindicalismo, São Bernardo do Campo (SP), com 780 mil habitantes, além das capitais.
Um dos coordenadores do CRIP, o cientista político Leonardo Avritzer, acredita que as câmaras e prefeituras foram identificados como ambientes mais corruptos porque estão mais próximos da população. “As pessoas vêem mais desvios nos poderes locais porque estão mais perto.
Não quer dizer que as outras instituições são menos corruptas, mas que a percepção é maior no nível local”, avalia. Já em relação ao Judiciário e à Polícia Federal, apontados como ambientes onde há mais lisura, Avritzer aponta o papel dos juízes no combate à corrupção e as ações da PF na investigação dos crimes do colarinho branco. Além de Avritzer, fazem parte do CRIP os professores Heloísa Starling, Juarez Guimarães, Newton Bignotto, todos da UFMG, e Fernando Filgueiras, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
Lula
O levantamento apresenta respostas contraditórias que revelam como o brasileiro se comporta em relação ao governo Lula. Apesar de 77% considerarem a corrupção um problema muito grave e mais da metade (54%) avaliar que ela aumentou muito nos últimos anos, quando perguntados se a elevação está relacionada ao governo Lula, apenas 17% respondem que sim. Três quartos dos entrevistados (75%) repetem o bordão do governo, de que o que houve não foi elevação da corrupção, mas maior apuração dos casos escondidos.
Apesar da aparente incoerência, as respostas se relacionam com outras sondagens de opinião pública, feitas durante os maiores escândalos do primeiro e segundo mandatos de Lula, que mostravam o chamado “efeito teflon”, ou seja, que nenhuma denúncia colava na imagem do presidente. Havia na época uma queda pouco expressiva da avaliação do governo e do presidente, apesar da indignação da população com os desvios apontados.
Mídia
A pesquisa constata o reflexo de uma maior exposição dos escândalos na mídia. O caso do ex-presidente do Senado Renan Calheiros, que entre outras denúncias foi acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista e de usar laranjas na compra de duas emissoras de rádio em Alagoas, é mais lembrado pela população do que o do metrô de São Paulo, que envolve propina e mortes, mas ocupou menos páginas de jornais. “O caso Renan é grave, mas não teve mortos, nem um volume de recursos supostamente desviado como o do metrô paulistano, mas não ficou em evidência”, lembra Avritzer. O brasileiro avaliza o papel da mídia: 87% dizem que ela está atenta aos casos de corrupção e 60% acham que ela age de forma imparcial.
"Isso acontece por nós os patrões deixamos as portas abertas."
uai

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